Por Wallace Melo Barbosa*
É bem verdade que o atual presidente tentou estabelecer um controle sobre o Carnaval e impor ao país, durante os dias de festejos, uma agenda populista, a fim de minimizar a sua rejeição perante o povo.
É bem verdade que o atual presidente tentou estabelecer um controle sobre o Carnaval e impor ao país, durante os dias de festejos, uma agenda populista, a fim de minimizar a sua rejeição perante o povo.
Porém, vendo que não conseguiu fazer do carnaval um palanque, Bolsonaro, além de não ter conseguido impedir as críticas nas ruas, no final, deixou sua máscara cair, e em plena terça-feira (25), convocou um levante contra o regime democrático.
Um estado lamentável e preocupante ao povo. Mas será que um novo golpe de estado vem se apresentando?
Pois bem, o ataque as instituições democráticas e a convocação para um ato contra os poderes, judiciário e executivo, mostram o caráter autoritário do governo Bolsonaro. Deixando os vários setores democráticos em alerta geral, pois fechar o Congresso Nacional e o Supremo Federal é rasgar de uma vez os princípios democráticos constitucionais e conduzir o país, a uma aventura ditatorial trágica e deveras perigosa.
Não é novidade, que o presidente Bolsonaro, além de flertar com o crime organizado e as milícias, tem, dentro de uma narrativa conservadora, o desejo de desmontar ou até mesmo implodir as demais instituições democráticas do país. Foi assim, quando obrigou o então ministro Sérgio Moro, a proteger Flavio Bolsonaro e Fabrício Queiroz, frente aos esquemas ilegais que os mesmos estão envolvidos. É assim, com o silêncio nada acidental da força tarefa da operação Lava-Jato, frente a casos de corrupção dentro do governo. Na verdade, o presidente quer o país sob a sua tutela e não poupará esforços para tomar de assalto o poder.
E o que aconteceu na terça-feira de carnaval, foi, sem dúvida, a materialização dessa vontade insana de instituir um regime monocrático e ditatorial. E para isso, o presidente convoca o povo, instiga a população a insurgir, no dia 15 de março, contra a democracia e suas instituições. Não esperemos racionalidade e equilíbrio, por parte de Bolsonaro, nesses próximos dias.
Sobre esse caso, o ministro do STF, Celso de Mello, declarou que, se confirmada à autoria desse chamado contra a democracia, pelo chefe do poder executivo federal, tal atitude seria algo que revelaria “a face sombria de um presidente da República que desconhece o valor da ordem constitucional, que ignora o sentido fundamental da separação de poderes, que demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce”.
O governador do Maranhão, Flávio Dino, também se manifestou sobre o caso: “para os que estão achando que o ato do dia 15 de março será ‘normal’, esperemos para ver o festival de faixas, cartazes e discursos contra a Constituição e as leis”.
Já as centrais sindicais, CUT, CTB, Força Sindical, Nova Central, CSB, CSP-Conlutas, Intersindical e CGTB emitiram uma nota em conjunto, denunciando a escalada golpista de Bolsonaro. De acordo com entidades sindicais, [...] Com esse ato, mais uma vez, o presidente ignora a responsabilidade do cargo que ocupa pelo voto e age, deliberadamente, de má-fé, apostando em um golpe contra a democracia, a liberdade, a Constituição, a Nação e as instituições [...].
O líder da oposição, o deputado federal, Alessandro Molon (PSB-RJ), se manifestou e propôs uma reunião de emergência com os presidentes das casas legislativas, Rodrigo Maia (Câmara dos Deputados), e Davi Alcolumbre (Senado Federal), e convocou os líderes dos outros partidos para decidirem o que fazer diante da convocação do presidente ao ato do dia 15 de março. De acordo com o parlamentar, “Temos que parar Bolsonaro! Basta! As forças democráticas deste país têm que se unir agora. Já! É inadiável uma reunião de forças contra esse poder autoritário. Ou defendemos a democracia agora ou não teremos mais nada para defender em breve".
A escritora Eliane Brum, escreveu um artigo para o jornal El País na última quarta-feira (26), alertando sobre o golpe gestado por Bolsonaro e a íntima ligação dos seus movimentos, ao fortalecimento de políticas que institucionalizam a violência policial nos estados; a substituição gradativa de técnicos e políticos por generais e oficiais das forças armadas, no alto escalão do governo federal e os levantes da PM no Ceará. E tudo isso teria alvo estratégico, as instituições democráticas.
Segundo Brum, “Não há nada comparável à situação vivida hoje pelo Brasil sob o Governo de Bolsonaro. Mas ela só é possível porque, desde o início, se tolerou o envolvimento de parte das PMs com esquadrões da morte, na ditadura e além dela. Desde a redemocratização do país, na segunda metade dos anos 1980, nenhum dos governos combateu diretamente a banda podre das forças de segurança. Parte das PMs se converteu em milícias, aterrorizando as comunidades pobres, especialmente no Rio de Janeiro, e isso foi tolerado em nome da “governabilidade” e de projetos eleitorais com interesses comuns”.
No mesmo artigo, a escritora alerta sobre a inteligência do presidente, em entender a lógica de um Estado autoritário e policialesco, “ele nunca escondeu o que defendia e sempre soube a quem agradecer pelos votos”.
De acordo com Brum: “A hora de lutar está passando. O homem que planejava colocar bombas em quartéis para pressionar por melhores salários é hoje o presidente do Brasil, está cercado de generais, alguns deles da ativa, e é o ídolo dos policiais que se amotinam para impor seus interesses pela força”.
Pois bem, é difícil não se espantar com o que vem acontecendo no país, principalmente quando começamos a juntar os pontos, percebendo que os fatos não são tão isolados ou acidentais. Pelo contrário. E a grave atitude do presidente mostrou o quanto estamos vulneráveis.
Mas o horizonte também nos mostra outros caminhos a ser seguidos. E nesse momento, a união dos mais variados setores democráticos é imprescindível para combatermos o bolsonarismo, que se espalha como um câncer em nosso tecido social. A defesa da democracia torna-se o centro da ação política, independente da agremiação partidária que sejamos. A unidade é a bandeira da esperança!
Sigamos juntos com a democracia, pois derrotar o espectro do fascismo que se materializa em Bolsonaro é, sem dúvidas, o maior e mais efetivo ato de patriotismo e coragem que os(as) brasileiros(as) podem ter nesse momento. Vamos unir forças aos partidos políticos, as centrais sindicais, aos estudantes, as mulheres, aos negros(as), a ao conjunto dos movimentos sociais que querem dizer NÃO à ditadura!
FORA BOLSONARO! DEMOCRACIA JÁ! ABAIXO A DITADURA!
(*) Secretário de Formação e Assuntos Econômicos do Sinpro Pernambuco
(*) Secretário de Formação e Assuntos Econômicos do Sinpro Pernambuco