EM OLINDA, O TEATRO POPULAR DO BONSUCESSO É REABERTO

Foto: prefeitura de Olinda
Por Wallace Melo Barbosa

No final do mês de janeiro, os(as) olindenses recebem com alegria, a entrega do teatro popular do Bonsucesso, equipamento cultural que, após longos anos em reforma, volta a funcionar, sendo mais uma opção para o fomento e fruição das artes, sobretudo as cênicas, propiciando assim, a muitos munícipes a oportunidade de conhecer e frequentar um espaço voltado à espetáculos teatrais.

O teatro do Bonsucesso, sem duvidas, será um importante espaço para oxigenar a cadeia produtiva na cidade e em toda região metropolitana. Sua história, diga-se de passagem, é bastante rica e relevante para a formação de vários artistas. Foi lá, que, durante a década de 1970, o famoso grupo Vivencial se apresentou, com suas peças e espetáculos. Assim como o grupo teatral Moagem, que durante a década de 1990 também abrilhantou a casa com seus trabalhos.

Era no teatro popular do Bonsucesso que foram realizadas várias oficinas gratuitas de iniciação às artes cênicas e cursos de interpretação. Ou seja, um espaço vivo, dinâmico, artístico e formativo. Não é por acaso, que o local abrigou tantos coletivos e companhias teatrais, inclusive a Associação de Teatro de Olinda (ATO), entidade que liderou com muita militância, o movimento e as campanhas pela recuperação do equipamento. Em 2012 houve sua reinauguração, contudo, até o momento, o seu aproveitamento foi tímido e deficitário, principalmente devido o longo período que ficou fechado para a realização de reformas, praticamente intermináveis.

Foto: prefeitura de Olinda
Infelizmente, a principal consequência desse período em que o teatro ficou fechado se estabelece, sobretudo por um vazio na formação de artistas, técnicos e profissionais ligados às artes cênicas na cidade, uma vez que, mesmo sendo a primeira capital brasileira da cultura, Olinda não possui um centro de formação ou uma política específica voltada ao setor.

Uma realidade que pode ser transformada com essa nova fase do teatro popular do Bonsucesso, uma vez que se encontra requalificado e entregue novamente ao povo de Olinda. E assim, que os novos artistas brotem pela cidade, que os belos espetáculos teatrais abrilhantem seu palco, e, principalmente, que a população possa ter mais acesso a arte e a cultura.

120 ANOS DE LUIZ CARLOS PRESTES (PARTE FINAL)


Prestes: um legado político para o século XX

O retorno à clandestinidade trouxe enormes prejuízos políticos à Prestes, o isolamento foi o principal deles. Na década de 1950, já casado com Maria do Carmo Ribeiro, também integrante do PCB, o cavaleiro da esperança, ainda na tarefa de secretário-geral do partido comunista, assina o Manifesto de 1º de agosto, conclamando o povo à luta armada, a fim de implantar um governo revolucionário. A chamada não teve muito apoio e os comunistas aos poucos iam ficando cada vez mais isolados da vida política no país, em virtude, principalmente do radicalismo prestista.

Em 1955 o partido, ao contrário da posição tomada nas últimas eleições, que defendeu o voto nulo, decidiu por apoiar a chapa de Juscelino Kubtschek e João Goulart para, respectivamente, presidência e vice-presidência da república. Três anos depois, Prestes e demais comunistas retomam à legalidade e voltam à vida política do país, porém o PCB continua na clandestinidade.

O movimento comunista na época passava por uma grande crise, principalmente após as críticas construídas após o XX congresso do partido comunista da URSS ao culto à personalidade de Stálin e a uma série de auto-avaliação acerca da condução da União Soviética. No Brasil o PCB delibera pela participação nos processos eleitorais, mesmo com o seu registro estando ilegal. Prestes “reinicia-se um período de intensa atividade junto às massas populares e a diferentes setores da vida política nacional (PRESTES, p. 57, 2006)”.
[...] em 1960, sob a forma de uma “convenção comunista”, o 5º Congresso do Partido, em que são reafirmadas as principais teses presentes na “Declaração de Março” de 1958. Os comunistas participam das lutas do movimento operário e democrático a favor das “reformas de base” e, em particular, da Reforma Agrária, alcançando importantes vitórias nos anos que se estendem até o golpe militar de abril de 1964[...] (PRESTES, p. 57, 2006).
Durante a década de 1960, Prestes viaja por todo país, empenhado na defesa dos ideais revolucionários e nas lutas populares. Nas eleições, apóia as candidaturas do marechal Henrique Teixeira Lott para presidência e João Goulart para vice-presidência. Nesse período, o país passou por alguns avanços sociais e políticos. Junto com Jango, os comunistas, o movimento operário, e demais forças nacionalistas e progressistas defendiam a implantação das então, chamadas, reformas de base (bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária e universitária), que desde a década passada era uma bandeira defendida por Goulart.

Entretanto, mesmo diante de tantos avanços e com a posse de Jango como presidente do Brasil em 1963, a correlação de força política não conseguiu impedir o golpe militar imposto em 1964, apoiado pelos setores de direita, junto aos tribunos do capital internacional que atuavam fortemente no país. Um período que relegou ao país, 20 anos de retrocessos.

Os comunistas, nesse período, foram os principais alvos da ditadura, os dirigentes do PCB, incluindo Prestes, retornam à vida clandestina e passam a sofrer uma série de perseguições, torturas, cárceres e muitos foram chacinados pelo regime dos militares. Em 1971, Prestes exilou-se na URSS.

Na Europa, Prestes,
[...] “desenvolve intensa atividade no campo internacional, procurando mobilizar a opinião pública mundial contra a ditadura militar no Brasil, denunciando seus crimes e buscando formas de apoio e solidariedade efetiva aos presos e perseguidos políticos no país. Participa intensamente da campanha mundial pela anistia ampla, geral e irrestrita no Brasil (PRESTES, p. 59-60, 2006).
Ainda fora do país, Prestes começa a acentuar uma série de divergências com o conjunto dos integrantes do Comitê Central do PCB, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento nacional e condução política dos comunistas. A diferença das opiniões de Prestes em relação ao partido acarretará, mais adiante, em seu rompimento político com a organização partidária.

Somente em 1979 que Prestes conquista a anistia e retorna ao país. Recebido por uma grande massa de jovens, trabalhadores, estudantes e lideranças políticas, o cavaleiro da esperança desembarca no Rio de Janeiro. No ano seguinte, por meio da Carta aos Comunistas, ele oficializa o rompimento com o PCB, mas permanece propagando “seus ideais revolucionários junto aos mais diversos setores da nação, principalmente os trabalhadores e os jovens (PRESTES, p. 62, 2006)”. Além da participação de campanhas eleitorais, apoiando candidatos alinhados às lutas populares e progressistas. Durante a década de 1980, Prestes foi assediado por vários grupos políticos, até recebeu o convite para a fundação de um novo partido revolucionário no Brasil. Em 1982, foi condecorado como presidente de honra do PDT.

Já no início da década de 1990, no Rio de Janeiro, dia 7 de março, Prestes faleceu. Seu velório aconteceu no Palácio Tiradentes e o enterro no cemitério São João Batista. O sepultamento durou 48 horas e mobilizou uma multidão de pessoas, com delegações de todos os estados brasileiros, além de comunistas e admiradores de outros países.

O legado político de Prestes, de fato ficou pra história das lutas sociais e nas memórias do movimento comunista internacional. Um líder, que com seus erros e acertos, nunca deixou de ser fiel aos seus ideais e se fez presente nos mais variados ambientes políticos no Brasil, durante o século XX sem temer a nenhum dos obstáculos impostos. Sua trajetória é uma lição por completa e seu legado se dá principalmente pela sua coragem e lealdade ao povo brasileiro, ao socialismo e a revolução. Salve Luiz Carlos Prestes, o cavaleiro da esperança, ou, como se apresentava, um comunista revolucionário!

REFERÊNCIAS 
PRESTES, Anita Leocádia. Luiz Carlos Prestes: patriota, revolucionário, comunista. São Paulo: Expressão Popular, 2016.


Leia a primeira parte do artigo aqui 
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120 ANOS DE LUIZ CARLOS PRESTES (PARTE 2)

Da Revolução à Constituinte de 1946


A importância de Prestes na vida política do Brasil na primeira metade do século XX é incontestável. Não era a toa que sua alcunha era a de cavaleiro da esperança. Em seu livro, o escritor Paulo Cavalcanti narrou as seguintes palavras sobre a Coluna e o movimento dos tenentes:
[…] Mesmo sem compreender perfeitamente o que se passava, minhas simpatias se voltavam para os “tenentes”, que apareciam aos meus olhos como defensores de uma nova ordem social. E uma nova ordem social representava nada mais, nada menos, do que mais comida, mais jantar, promoção do meu pai na Recebedoria, lança-perfume Vlã listrada de cores no Carnaval, a satisfação de comer um abacate inteirinho, não pela metade, como era o hábito lá em casa, roupa nova nas festas de fim de ano, mais “peido-de-velhas” e “busca-pé no São João e São Pedro e brinquedos comprados em loja […] (CAVALCANTI, p.43, 1978).
Na década de 1930, Prestes já era membro da Internacional Comunista e do PCB. Em 1934 retorna, clandestinamente, de Moscou para o Brasil. Nessa época, estava casado com a alemã, Olga Benário. O momento era delicado, a conjuntura nacional era marcada pelo governo constitucional de Vargas e no âmbito internacional, a Europa tornara-se cenário para emergência das ideias fascistas. No país, o integralismo, liderado por Plínio Salgado, era o movimento porta-voz dessas ideias.

No ano de 1935 Prestes se tornou o presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL), “uma ampla frente única, que se propunha a lutar contra o imperialismo, o latifúndio e a ameaça fascista (PRESTES, p. 31, 2006). Com o lema, “Pão, Terra e Liberdade”, a ANL se tornou um grande polo de resistência popular contra as desigualdades sociais, mobilizando grande parcela de trabalhadores, intelectuais, estudantes, artistas etc. Naquele mesmo ano, Vargas decretou o fechamento da ANL. O PCB e Prestes, que detinham grande influência sobre a Frente, avaliava que, o momento político estava propício para uma insurreição popular, “com o objetivo de derrubar Vargas e estabelecer um 'Governo Popular Nacional Revolucionário' (PRESTES, p. 34, 2006)”. A intentona comunista - nome dado ao movimento liderado por Prestes – fracassou e mais tarde, muitos conseguiram enxergar que, de fato, foi um grande erro tático e de análise.

No ano seguinte, foi decretada a prisão de Prestes, a revogação da sua patente de Capitão e uma condenação de mais de 47 anos de prisão. Olga, nesse período estava gestante, também foi presa e deportada para Alemanha. Teve sua filha, Anita Leocádia, dentro de uma prisão nazista e foi assassinada em 1942, “numa câmara de gás no campo de concentração de Bernburg (PRESTES, p. 35, 2006)”.

Na década de 1940, Prestes, ainda preso, avaliando a necessidade de derrotar o fascismo no mundo – principal bandeira do movimento comunista internacional – e percebendo o afastamento do governo Varguista com as forças do Eixo, durante a Segunda Guerra, resolve em apoiar politicamente Getúlio Vargas.

Em 1943, mesmo no cárcere,foi eleito, Secretário-Geral do PCB, após o seu congresso de reestruturação. Em 1945, Vargas assina um decreto de lei que liberta os presos políticos no Brasil. Após nove anos encarcerado, Prestes conquista a liberdade. Neste mesmo ano, chegam ao Brasil, sua filha Anita Leocádia (que ele não conhecia) e sua irmã, Lygia, ambas vindas do México.

A libertação de Prestes gerou uma enorme mobilização popular, que rendeu muitos frutos para a campanha de legalização do PCB, “assim como na luta pela “União Nacional”, compreendida como um processo que deveria contribuir para a efetiva democratização do país (PRESTES, p. 45, 2006).
Grandes comícios e manifestações são realizados por todo o Brasil, com a presença de Prestes. O PCB havia conquistado sua legalidade de fato, nas ruas, com a participação do povo. Entre os principais atos públicos então realizados, foram especialmente importantes os memoráveis comícios do estádio de São Januário, no Rio de Janeiro, em 23/5/1945, e do estádio do Pacaembu, em São Paulo, em 15/7/1945 (PRESTES, p. 45-46, 2006).
Em dezembro de 1945, o PCB elegeu Prestes como o único senador comunista, com uma expressiva votação no Distrito federal (mais de 160 mil votos), diga-se de passagem, além de uma bancada de deputados que contava com nomes como Carlos Marighella, Gregório Bezerra, Osvaldo Pacheco e Jorge Amado, João Amazonas, Claudino Silva (o único negro na Assembleia Constituinte de 1946).

Nos trabalhos da Assembleia Constituinte, Prestes se tornou líder da bancada comunista, defendendo uma plataforma política pautada pela defesa ao regime democrático e pelo direito ao voto universal, direitos sociais (sobretudo o direito de greve), liberdade de opinião, associação, expressão etc., igualdade de direitos entre homens e mulheres, sem distinção de nacionalidade, religião, cor e classe.

Merece destaque nas atividades parlamentares de Prestes a sua inserção na luta pela Reforma Agrária, combate ao latifúndio e a expropriação, além da defesa à função social da propriedade e de políticas que fixassem o homem no campo, por meio de pequenas propriedade, visando a criação de centros de população agrícola.

Segundo Prestes: “Sem uma redistribuição da propriedade latifundiária, ou em termos mais precisos, sem uma verdadeira reforma agrária, não é possível debelar grande parte dos males que nos afligem” (PRESTES, p. 50, 2006).

Sabe-se que os pleitos dos comunistas à Constituição de 1946 não foram contemplados em sua totalidade, mas, ainda sim, muitos dos avanços sociais, direitos democráticos e trabalhistas tiveram o DNA dos parlamentares ligados ao partido comunista.

Nesse período, fortemente influenciado pelo contexto internacional da Guerra-Fria, Prestes enquanto senador, sofreu perseguições, devido a intensa propaganda anti-comunista. Em 1947, o presidente Dutra relega o PCB a ilegalidade e no ano posterior, os mandatos comunistas são cassados, voltando assim a atuar na clandestinidade por uma longa e tumultuada década.

REFERÊNCIAS 
CAVALCANTI, Paulo. O caso eu conto como o caso foi: da coluna Prestes à queda de Arraes. São Paulo: Alfa-Omega, 1978. 
PRESTES, Anita Leocádia. Luiz Carlos Prestes: patriota, revolucionário, comunista. São Paulo: Expressão Popular, 2006.

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03 DE JANEIRO: 120 ANOS DE LUIZ CARLOS PRESTES (PARTE 1)



Iniciado o ano de 2018, também recomeço a uma das atividades que tanto me agrada, escrever. E diante da comemoração dos 120 anos de nascimento de Luiz Carlos Prestes, apresento uma série de três textos com objetivo de contar um pouco da trajetória política de uma das maiores lideranças do Brasil e da América Latina.

Prestes: do jovem militar ao líder comunista

Nascido no dia 3 de janeiro de 1898, em Porto Alegre, o militar, rebelde, ex-constituinte e notável líder do partido comunista, Luiz Carlos Prestes foi mais um dos políticos mais influentes do país e da América Latina na primeira metade do século XX, escrevendo uma biografia, a partir do engajamento nas lutas e na defesa das causas do povo brasileiro.

Herdeiro de uma família de ideais avançados, progressistas e republicanos, ainda jovem, Prestes teve uma formação escolar no colégio militar do Rio de Janeiro, onde mais tarde se tornaria engenheiro e oficial do exército brasileiro. Contudo, sua carreira militar não foi longa, mas no ano de 1922 já era capitão.
Sua carreira militar esteve marcada por várias manifestações de protesto contra as irregularidades por ele observadas nas unidades onde serviu, primeiro no Rio de Janeiro, depois no Rio Grande do Sul. Por duas vezes solicitou demissão do Exército, a última às vésperas de levantar-se contra o governo Arthur Bernardes, visando criar a impressão de que abandonara definitivamente as Forças Armadas, o que viria a facilitar sua participação na conspiração dos “tenentes” (PRESTES, p.12, 2006).
Em 1924, o Capitão Luiz Carlos Prestes já era uma liderança respeitada pelos seus pares e subordinados no Rio Grande do Sul, além de ser uma figura conhecida dentro do próprio movimento “tenentista”, que contava com jovens oficiais do exército e da marinha convencidos pela necessidade de mudanças políticas no país, principalmente por meio de uma plataforma de transformações que envolvia a renúncia do presidente Arthur Bernardes, a convocação de uma nova assembleia constituinte e pela instituição do voto secreto, principal arma para combater as manobras eleitorais da época da república dos coronéis.

Foram os tenentes responsáveis pelo famoso levante dos 18 do Forte de Copacabana em 1922, liderados pelo tenente Antônio de Siqueira Campos, que, embora sufocada, deixou sua marca na história das lutas nacionais e influenciou a emergência de novos movimentos nos quartéis, tanto no Rio de Janeiro, quanto em Rio Grande do Sul.

Diante esse contexto, à medida que as denúncias contra as oligarquias aumentavam, dentro e fora dos quartéis, o clamor por reformas políticas e sociais faziam nascer no Brasil, umas das maiores lideranças políticas. Munido de seus ideais, tática e rebeldia, Prestes, percebeu que crise do pacto político das oligarquias era crescente.

Em 1924, o exército mobilizou 14 mil soldados no Rio Grande do Sul, a fim de reprimir os militares subversivos, liderados por Prestes, que conseguem romper o cerco das tropas governistas e inicia uma das maiores guerrilhas da história do Brasil, a Coluna Prestes, seguindo rumo ao norte para se unirem aos paulistas e seguirem firmes na “revolução dos tenentes”. A marcha teve seu fim somente no ano de 1927, com o exílio da maioria dos revoltosos na Bolívia e na Argentina, inclusive o próprio Prestes.
A Coluna Prestes durou 2 anos e 3 meses, percorrendo cerca de 25 mil quilômetros através de 13 Estados do Brasil. Jamais foi derrotada, embora tenha combatido forças muitas vezes superiores em homens, armamento e apoio logístico, tendo enfrentado ao todo 53 combates. Os principais comandantes do Exército nacional não só não puderam desbaratar a Coluna Prestes, mas também sofreram pesadas perdas e sérios reveses impostos pelos rebeldes durante sua marcha. A Coluna, em seu périplo pelo Brasil, derrotou 18 generais. (PRESTES, p.24, 2006).
Nos anos de exílio, “primeiro na Bolívia, e posteriormente na Argentina e no Uruguai, Prestes daria início ao estudo das obras de K. Marx, F. Engels e V. Lenin” (PRESTES, p. 26, 2006). Já conhecido como o líder máximo dos tenentes e apelidado de “cavaleiro da esperança” pela imprensa carioca, passou um bom tempo se dedicando aos estudos da teoria e literatura marxista e conheceu importantes figuras, que muito contribuiriam na sua formação política, como Astrojildo Pereira, um dos fundadores do PCB, Rodolfo Ghioldi, do partido comunista argentino e Abraham Guralski, dirigente da Internacional Comunista.
O contato com o marxismo causaria um forte impacto no Cavaleiro da Esperança. Ao cabo de um duro processo de revisão de suas concepções ideológicas, Prestes encontraria no marxismo não só a explicação que buscava para suas indagações e inquietações, mas também a solução para os problemas que ele pudera detectar na vida brasileira. Prestes aderia de corpo e alma ao marxismo, ao socialismo e ao comunismo e, principalmente, à proposta da revolução socialista no Brasil (PRESTES p.28. 2006).
Tal recorte acerca da formação ideológica de Prestes nos tempos de exílio é algo relevante, principalmente por uma questão de entendimento acerca de sua inserção política a partir de 1930, quando no Brasil, Getúlio Vargas se colocava como o candidato da Aliança Liberal em oposição às oligarquias oriundas do pacto do “café-com-leite”.

Na época, muitos dos que fizeram parte do movimento tenentismo aderiram à Vargas. Segundo a análise de alguns historiadores, nesse período, Prestes se encontrou clandestinamente com Getúlio, mas avaliando que o momento político em tal contexto eleitoral serviria apenas para uma possível permuta de liderança política (pertencentes a uma mesma elite), inexistindo uma real possibilidade de mudanças sociais e econômicas ao povo, não aderiu à Aliança Liberal.

Posteriormente, Prestes, através do documento intitulado de “Manifesto de Maio” denuncia o adesismo dos tenentes com o grupo político liderado por Vargas, rompendo assim com o movimento tenentista. O Brasil nesse período estava praticamente às vésperas da Revolução de 1930.

Já em 1931, Luiz Carlos Prestes se muda para URSS, dedicando seu tempo aos estudos e ao trabalho como engenheiro. Nessa época já se percebia como, comunista, marxista e leninista e defensor de uma revolução socialista para o Brasil. O interessante é que o PCB só aceitaria a filiação do Cavaleiro da Esperança aos seus quadros, somente em 1934.

REFERÊNCIAS 
PRESTES, Anita Leocádia. Luiz Carlos Prestes: patriota, revolucionário, comunista. São Paulo: Expressão Popular, 2016.