Por Wallace Melo Barbosa
A desastrosa agenda do governo Bolsonaro, vem trazendo sérios riscos, em diversas instâncias, para o povo brasileiro, sobretudo os mais pobres. Enquanto o mundo se mobiliza no enfrentamento do Covid-19, o presidente minimiza o problema, incita pessoas a irem às ruas e, na contramão das autoridades sanitárias, aparece em público para cumprimentar seus seguidores.
Um governante que, além de não apresentar as saídas necessárias para a retomada do desenvolvimento nacional, não esconde suas fortes relações com o crime organizado, milícias, e grupos ideológicos neofascistas. A famiglia Bolsonaro, por sua vez, ataca constantemente as instituições democráticas no Brasil, flerta com idéias ditatoriais e, não cansa de gerar polêmicas com insinuações desrespeitosas e ataques a outras nações.
Um governo que já sofre desgaste e demonstra despreparo e insuficiência E diante dos esforços mundiais para combater o novo Coronavírus, o Brasil já apresenta pessoas contaminadas e óbitos. As autoridades públicas aumentam diariamente os esforços para conter a proliferação do Covid-19. A população, por sua vez, mesmo diante das orientações permanece em um estado de medo e insegurança, por suas vidas e pela sobrevivência diária.
É bem verdade que o Coronavírus chega ao Brasil em um período de crise. Num cenário balizado pelos cortes nos investimentos nas áreas sociais e no Sistema Único de Saúde; pelas emergentes taxas de desemprego e aumento da miséria; e pela desvalorização da moeda brasileira, desestabilizando o comércio e reduzindo os investimentos na economia, a população não sabe onde vamos chegar, com essa pandemia.
No entanto, visando proteger, não a população, mas o mercado, o ministro da economia, Paulo Guedes, orientado por Bolsonaro, apresenta como medidas do governo para superar a pandemia do Coronavírus, a possibilidade de redução, de até 50%, dos salários da classe trabalhadora, sobretudo dos servidores públicos. Ações essas que durariam até o final de 2020.
De concreto é que, nesse momento, o governo não apresentou um plano mais denso, a fim de combater o Covid-19, tampouco ampliou os investimentos no Sistema Único de Saúde. O que Bolsonaro tem feito é fechar fronteiras, com países vizinhos (Venezuela, Argentina, Colômbia, Bolívia, República Cooperativa da Guiana, Guiana Francesa, Paraguai, Peru e Suriname).
Na contramão da democracia e da transparência
Que o governo Bolsonaro é inimigo declarado da democracia, todos sabem, inclusive os setores da direita, contudo, frente a essa realidade tão complexa, marcada pela desinformação e circulação descontrolada de fake news, a necessidade de informações oficiais, principalmente sobre a pandemia do Coronavírus é imperiosa. A transparência nas ações institucionais pode ser uma ferramenta salutar para tranqüilizar a população.
Por outro lado, esconder ou não atualizar informações oficiais só ajuda na circulação de notícias falsas. E diante essa quadra, o governo Bolsonaro, ainda na contramão do bom senso, simplesmente “desativou” o link da plataforma IVIS, portal oficial para se obter informações de vigilância em saúde. Desde a última quinta-feira (19), a seção que trata sobre as notificações e índices sobre o Covid-19, encontra-se em manutenção e não há, ainda, uma data certa, para a atualização dos dados no site. No sábado (20), a plataforma se apresenta com um novo layout, porém, inexistindo relatos sobre o Coronavírus no país.
Segundo o ministério da saúde, a plataforma está em processo de modernização técnicas e operacionais, sem previsão de término.
O que temos é um presidente que se comporta mais como um “famoso da internet”, do que uma liderança política. Relega o destino do país a um horizonte nebuloso. Contudo, as respostas, mesmo em um cenário complexo e de isolamento, vem surgindo, nos diversos setores da sociedade. As panelas soaram novamente, mas agora, contra o presidente Bolsonaro.
E diante desse cenário, ao mesmo tempo em que temos que aumentar nossa empatia e solidariedade, precisamos manter a racionalidade, a fim de entender que nossos maiores problemas, embora tenham razões peculiares, as saídas se estabelecem na política.
Não me refiro a politizar a pandemia, mas exigir dos poderes públicos saídas que protejam a população. No entanto, o que vem sendo apresentado, pela famiglia Bolsonaro são apenas reuniões com empresários e banqueiros, o governo vem colocando o mercado na frente das vidas.
Combater a epidemia do bolsonarismo
O bolsonarismo se impregnou no tecido social brasileiro, muito semelhante a uma epidemia. Contaminou mentes e corações, com suas narrativas preconceituosas. Apresentando soluções fáceis para problemas estruturais, o presidente acredita que, somente com suas aparições em lives, externando dizeres patéticos, conseguirá enganar os(as) brasileiros(as), e alimentar sua perigosa rede de apoiadores, milícias, grupos neofascistas, conservadores e representantes do mercado (em sua pior concepção, obviamente).
Contudo, os resultados práticos não aparecem (e nem vão acontecer). O PIB não cresce, a moeda desvaloriza-se, e as aparições midiáticas do presidente (com ou sem humoristas e ministros) estão perdendo força. Setores das classes médias, que a outrora, se encantavam com as palavras de Bolsonaro, já se mostram céticos. Organizações e partidos de direita já se posicionam distantes.
Assim, o horizonte apresenta uma oportunidade de revertermos o quadro político. Combater o bolsonarismo é cuidar da saúde da democracia brasileira, pois, como um câncer, cresceu, afetou diversos órgãos e pode levar o país a uma “metástase política”, alicerçada num Estado autoritário, policialesco e monocrático.
O tecido social brasileiro acumula dois desafios, pelo bem da saúde do povo. O primeiro, vamos superar com isolamento das pessoas em suas residências, cuidados preventivos, aumento nos investimentos públicos no SUS e na ciência, para assim, chegar às necessárias profilaxias ao Coronavírus.
O segundo desafio, sua derrocada acontecerá com a construção de uma frente ampla, coletividade, acúmulo de forças e mobilização em torno da democracia. E assim, vamos nos livrar da epidemia do bolsonarismo, deixar o país saudável, para os (as) brasileiros (as) e retomar os rumos do desenvolvimento, em detrimento ao estado de crise que, até então se apresenta. Os caminhos que estão postos nos remetem a luta por transformações!
Wallace Melo Barbosa é professor de Ciências Humanas, membro da direção do Sinpro Pernambuco e da UNACOMO/PE.