120 ANOS DE LUIZ CARLOS PRESTES (PARTE FINAL)


Prestes: um legado político para o século XX

O retorno à clandestinidade trouxe enormes prejuízos políticos à Prestes, o isolamento foi o principal deles. Na década de 1950, já casado com Maria do Carmo Ribeiro, também integrante do PCB, o cavaleiro da esperança, ainda na tarefa de secretário-geral do partido comunista, assina o Manifesto de 1º de agosto, conclamando o povo à luta armada, a fim de implantar um governo revolucionário. A chamada não teve muito apoio e os comunistas aos poucos iam ficando cada vez mais isolados da vida política no país, em virtude, principalmente do radicalismo prestista.

Em 1955 o partido, ao contrário da posição tomada nas últimas eleições, que defendeu o voto nulo, decidiu por apoiar a chapa de Juscelino Kubtschek e João Goulart para, respectivamente, presidência e vice-presidência da república. Três anos depois, Prestes e demais comunistas retomam à legalidade e voltam à vida política do país, porém o PCB continua na clandestinidade.

O movimento comunista na época passava por uma grande crise, principalmente após as críticas construídas após o XX congresso do partido comunista da URSS ao culto à personalidade de Stálin e a uma série de auto-avaliação acerca da condução da União Soviética. No Brasil o PCB delibera pela participação nos processos eleitorais, mesmo com o seu registro estando ilegal. Prestes “reinicia-se um período de intensa atividade junto às massas populares e a diferentes setores da vida política nacional (PRESTES, p. 57, 2006)”.
[...] em 1960, sob a forma de uma “convenção comunista”, o 5º Congresso do Partido, em que são reafirmadas as principais teses presentes na “Declaração de Março” de 1958. Os comunistas participam das lutas do movimento operário e democrático a favor das “reformas de base” e, em particular, da Reforma Agrária, alcançando importantes vitórias nos anos que se estendem até o golpe militar de abril de 1964[...] (PRESTES, p. 57, 2006).
Durante a década de 1960, Prestes viaja por todo país, empenhado na defesa dos ideais revolucionários e nas lutas populares. Nas eleições, apóia as candidaturas do marechal Henrique Teixeira Lott para presidência e João Goulart para vice-presidência. Nesse período, o país passou por alguns avanços sociais e políticos. Junto com Jango, os comunistas, o movimento operário, e demais forças nacionalistas e progressistas defendiam a implantação das então, chamadas, reformas de base (bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária e universitária), que desde a década passada era uma bandeira defendida por Goulart.

Entretanto, mesmo diante de tantos avanços e com a posse de Jango como presidente do Brasil em 1963, a correlação de força política não conseguiu impedir o golpe militar imposto em 1964, apoiado pelos setores de direita, junto aos tribunos do capital internacional que atuavam fortemente no país. Um período que relegou ao país, 20 anos de retrocessos.

Os comunistas, nesse período, foram os principais alvos da ditadura, os dirigentes do PCB, incluindo Prestes, retornam à vida clandestina e passam a sofrer uma série de perseguições, torturas, cárceres e muitos foram chacinados pelo regime dos militares. Em 1971, Prestes exilou-se na URSS.

Na Europa, Prestes,
[...] “desenvolve intensa atividade no campo internacional, procurando mobilizar a opinião pública mundial contra a ditadura militar no Brasil, denunciando seus crimes e buscando formas de apoio e solidariedade efetiva aos presos e perseguidos políticos no país. Participa intensamente da campanha mundial pela anistia ampla, geral e irrestrita no Brasil (PRESTES, p. 59-60, 2006).
Ainda fora do país, Prestes começa a acentuar uma série de divergências com o conjunto dos integrantes do Comitê Central do PCB, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento nacional e condução política dos comunistas. A diferença das opiniões de Prestes em relação ao partido acarretará, mais adiante, em seu rompimento político com a organização partidária.

Somente em 1979 que Prestes conquista a anistia e retorna ao país. Recebido por uma grande massa de jovens, trabalhadores, estudantes e lideranças políticas, o cavaleiro da esperança desembarca no Rio de Janeiro. No ano seguinte, por meio da Carta aos Comunistas, ele oficializa o rompimento com o PCB, mas permanece propagando “seus ideais revolucionários junto aos mais diversos setores da nação, principalmente os trabalhadores e os jovens (PRESTES, p. 62, 2006)”. Além da participação de campanhas eleitorais, apoiando candidatos alinhados às lutas populares e progressistas. Durante a década de 1980, Prestes foi assediado por vários grupos políticos, até recebeu o convite para a fundação de um novo partido revolucionário no Brasil. Em 1982, foi condecorado como presidente de honra do PDT.

Já no início da década de 1990, no Rio de Janeiro, dia 7 de março, Prestes faleceu. Seu velório aconteceu no Palácio Tiradentes e o enterro no cemitério São João Batista. O sepultamento durou 48 horas e mobilizou uma multidão de pessoas, com delegações de todos os estados brasileiros, além de comunistas e admiradores de outros países.

O legado político de Prestes, de fato ficou pra história das lutas sociais e nas memórias do movimento comunista internacional. Um líder, que com seus erros e acertos, nunca deixou de ser fiel aos seus ideais e se fez presente nos mais variados ambientes políticos no Brasil, durante o século XX sem temer a nenhum dos obstáculos impostos. Sua trajetória é uma lição por completa e seu legado se dá principalmente pela sua coragem e lealdade ao povo brasileiro, ao socialismo e a revolução. Salve Luiz Carlos Prestes, o cavaleiro da esperança, ou, como se apresentava, um comunista revolucionário!

REFERÊNCIAS 
PRESTES, Anita Leocádia. Luiz Carlos Prestes: patriota, revolucionário, comunista. São Paulo: Expressão Popular, 2016.


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