03 DE JANEIRO: 120 ANOS DE LUIZ CARLOS PRESTES (PARTE 1)



Iniciado o ano de 2018, também recomeço a uma das atividades que tanto me agrada, escrever. E diante da comemoração dos 120 anos de nascimento de Luiz Carlos Prestes, apresento uma série de três textos com objetivo de contar um pouco da trajetória política de uma das maiores lideranças do Brasil e da América Latina.

Prestes: do jovem militar ao líder comunista

Nascido no dia 3 de janeiro de 1898, em Porto Alegre, o militar, rebelde, ex-constituinte e notável líder do partido comunista, Luiz Carlos Prestes foi mais um dos políticos mais influentes do país e da América Latina na primeira metade do século XX, escrevendo uma biografia, a partir do engajamento nas lutas e na defesa das causas do povo brasileiro.

Herdeiro de uma família de ideais avançados, progressistas e republicanos, ainda jovem, Prestes teve uma formação escolar no colégio militar do Rio de Janeiro, onde mais tarde se tornaria engenheiro e oficial do exército brasileiro. Contudo, sua carreira militar não foi longa, mas no ano de 1922 já era capitão.
Sua carreira militar esteve marcada por várias manifestações de protesto contra as irregularidades por ele observadas nas unidades onde serviu, primeiro no Rio de Janeiro, depois no Rio Grande do Sul. Por duas vezes solicitou demissão do Exército, a última às vésperas de levantar-se contra o governo Arthur Bernardes, visando criar a impressão de que abandonara definitivamente as Forças Armadas, o que viria a facilitar sua participação na conspiração dos “tenentes” (PRESTES, p.12, 2006).
Em 1924, o Capitão Luiz Carlos Prestes já era uma liderança respeitada pelos seus pares e subordinados no Rio Grande do Sul, além de ser uma figura conhecida dentro do próprio movimento “tenentista”, que contava com jovens oficiais do exército e da marinha convencidos pela necessidade de mudanças políticas no país, principalmente por meio de uma plataforma de transformações que envolvia a renúncia do presidente Arthur Bernardes, a convocação de uma nova assembleia constituinte e pela instituição do voto secreto, principal arma para combater as manobras eleitorais da época da república dos coronéis.

Foram os tenentes responsáveis pelo famoso levante dos 18 do Forte de Copacabana em 1922, liderados pelo tenente Antônio de Siqueira Campos, que, embora sufocada, deixou sua marca na história das lutas nacionais e influenciou a emergência de novos movimentos nos quartéis, tanto no Rio de Janeiro, quanto em Rio Grande do Sul.

Diante esse contexto, à medida que as denúncias contra as oligarquias aumentavam, dentro e fora dos quartéis, o clamor por reformas políticas e sociais faziam nascer no Brasil, umas das maiores lideranças políticas. Munido de seus ideais, tática e rebeldia, Prestes, percebeu que crise do pacto político das oligarquias era crescente.

Em 1924, o exército mobilizou 14 mil soldados no Rio Grande do Sul, a fim de reprimir os militares subversivos, liderados por Prestes, que conseguem romper o cerco das tropas governistas e inicia uma das maiores guerrilhas da história do Brasil, a Coluna Prestes, seguindo rumo ao norte para se unirem aos paulistas e seguirem firmes na “revolução dos tenentes”. A marcha teve seu fim somente no ano de 1927, com o exílio da maioria dos revoltosos na Bolívia e na Argentina, inclusive o próprio Prestes.
A Coluna Prestes durou 2 anos e 3 meses, percorrendo cerca de 25 mil quilômetros através de 13 Estados do Brasil. Jamais foi derrotada, embora tenha combatido forças muitas vezes superiores em homens, armamento e apoio logístico, tendo enfrentado ao todo 53 combates. Os principais comandantes do Exército nacional não só não puderam desbaratar a Coluna Prestes, mas também sofreram pesadas perdas e sérios reveses impostos pelos rebeldes durante sua marcha. A Coluna, em seu périplo pelo Brasil, derrotou 18 generais. (PRESTES, p.24, 2006).
Nos anos de exílio, “primeiro na Bolívia, e posteriormente na Argentina e no Uruguai, Prestes daria início ao estudo das obras de K. Marx, F. Engels e V. Lenin” (PRESTES, p. 26, 2006). Já conhecido como o líder máximo dos tenentes e apelidado de “cavaleiro da esperança” pela imprensa carioca, passou um bom tempo se dedicando aos estudos da teoria e literatura marxista e conheceu importantes figuras, que muito contribuiriam na sua formação política, como Astrojildo Pereira, um dos fundadores do PCB, Rodolfo Ghioldi, do partido comunista argentino e Abraham Guralski, dirigente da Internacional Comunista.
O contato com o marxismo causaria um forte impacto no Cavaleiro da Esperança. Ao cabo de um duro processo de revisão de suas concepções ideológicas, Prestes encontraria no marxismo não só a explicação que buscava para suas indagações e inquietações, mas também a solução para os problemas que ele pudera detectar na vida brasileira. Prestes aderia de corpo e alma ao marxismo, ao socialismo e ao comunismo e, principalmente, à proposta da revolução socialista no Brasil (PRESTES p.28. 2006).
Tal recorte acerca da formação ideológica de Prestes nos tempos de exílio é algo relevante, principalmente por uma questão de entendimento acerca de sua inserção política a partir de 1930, quando no Brasil, Getúlio Vargas se colocava como o candidato da Aliança Liberal em oposição às oligarquias oriundas do pacto do “café-com-leite”.

Na época, muitos dos que fizeram parte do movimento tenentismo aderiram à Vargas. Segundo a análise de alguns historiadores, nesse período, Prestes se encontrou clandestinamente com Getúlio, mas avaliando que o momento político em tal contexto eleitoral serviria apenas para uma possível permuta de liderança política (pertencentes a uma mesma elite), inexistindo uma real possibilidade de mudanças sociais e econômicas ao povo, não aderiu à Aliança Liberal.

Posteriormente, Prestes, através do documento intitulado de “Manifesto de Maio” denuncia o adesismo dos tenentes com o grupo político liderado por Vargas, rompendo assim com o movimento tenentista. O Brasil nesse período estava praticamente às vésperas da Revolução de 1930.

Já em 1931, Luiz Carlos Prestes se muda para URSS, dedicando seu tempo aos estudos e ao trabalho como engenheiro. Nessa época já se percebia como, comunista, marxista e leninista e defensor de uma revolução socialista para o Brasil. O interessante é que o PCB só aceitaria a filiação do Cavaleiro da Esperança aos seus quadros, somente em 1934.

REFERÊNCIAS 
PRESTES, Anita Leocádia. Luiz Carlos Prestes: patriota, revolucionário, comunista. São Paulo: Expressão Popular, 2016.

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