No dia em que se completam 20 anos da maior chacina da história do sistema penitenciário brasileiro, os movimentos sociais Rede Dois de Outubro e Levante Popular da Juventude fizeram um esculacho – um ato de denúncia – em frente à casa do ex- governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho. Na época, Fleury autorizou a Polícia Militar a invadir o Pavilhão 9 do presídio. No total, 111 detentos foram mortos.
Poesias, canções e uma demonstração simbólica de 111 velas acesas em frente à residência do ex-governador, no bairro do Pacaembu (SP), integraram a ação em memória dos presos, que durou cerca de 30 minutos. Aproximadamente 60 pessoas participaram do ato.
Para Juliane Furno, integrante do Levante Popular da Juventude, o objetivo da manifestação é denunciar a política de extermínio que segue dentro e fora dos presídios. "Os 20 anos do massacre não têm nada pra comemorar, e sim pra lamentar e impedir que essa política de extermínio se perpetue pela lógica do Estado”, comenta.
Durante a tarde desta terça-feira (2), os movimentos seguem para a Praça da Sé, centro de São Paulo, onde farão um ato ecumênico em memória dos detentos que foram assassinados. "Vamos fazer uma caminhada cobrando responsabilização de todos os responsáveis, e no sábado terá uma nova atividade no Parque da Juventude, onde se localizava o maior presídio da América Latina”, complementa Danilo Dara, da Rede dois de Outubro.
2 de outubro de 1992:
No dia 2 de outubro de 1992, Fleury concedeu poder de decisão ao coronel Ubiratan Guimarães para que os cerca de 340 homens dos batalhões de elite da Polícia Militar invadissem o pavilhão 9. O objetivo era conter um motim iniciado com uma discussão entre os presos "Barba” e "Coelho”, mas a ação resultou em 3,5 mil disparos de grosso calibre. Nenhum PM foi alvejado.
A Comissão que investigou os excessos cometidos naquele 2 de outubro conclui que não houve negociação e "os PMs dispararam contra os presos com metralhadoras, fuzis e pistolas automáticas, visando principalmente a cabeça e o tórax”.
Entre os envolvidos na operação, apenas o coronel Ubiratan foi a julgamento pelo massacre, sendo responsabilizado por 111 mortes e cinco tentativas de homicídio. Foi condenado a 632 anos de prisão em regime fechado. Por ser réu primário e ter endereço fixo, o coronel conseguiu recorrer da sentença em liberdade. Ironicamente, o pavilhão 9 era específico para réus primários. Cerca de 80% das vítimas do massacre esperavam por uma sentença definitiva. Ainda não haviam sido condenadas pela Justiça.
Mais tarde, a sentença contra o coronel foi anulada. Ubiratan elegeu-se deputado estadual. Em setembro de 2006 foi encontrado morto em seu apartamento, com um tiro no abdômen. Ciumenta, a namorada teria matado "por amor’.
Como o massacre ocorreu um dia antes de a população escolher prefeito e vereadores para o próximo mandato, o número oficial de mortos no massacre do Carandiru só foi revelado uma hora antes do encerramento das votações. As eleições estavam salvas e a ordem mantida.
FONTE: Jornal Brasil de Fato/Adital.
Por José Francisco Neto.
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