Foi publicada, na última terça-feira (1ª), no Diário Oficial do Recife, a convocação da audiência pública para discutir o projeto Novo Recife, proposto por um grupo de construtoras para o terreno do Cais José Estelita, área central da capital pernambucana. Por meio da Secretaria de Desenvolvimento e Planejamento Urbano, a primeira discussão sobre as diretrizes urbanísticas para a área ficou marcada para o dia 17 de julho, das 14h às 17h, no auditório da Faculdade Franssinetti do Recife (Fafire), no bairro da Boa Vista, Centro da cidade.

As diretrizes urbanísticas a serem discutidas podem estabelecer, por exemplo, o gabarito (quantidade de andares) dos edifícios, a disposição de imóveis comerciais e residenciais no terreno, a quantidade de área verde e disposição de terrenos para moradia popular.
A convocação dessa audiência estava prevista no documento elaborado na Prefeitura do Recife, no dia 16 de junho, um dia antes da ação da polícia para reintegrar o terreno do Cais, onde os manifestantes estavam acampados, ao grupo de construtoras. Como primeiro passo da negociação, estava a submissão da proposta de procedimentos aos representantes do Ocupe, Novo Recife e Ministérios Públicos Federal (MPF) e de Pernambuco (MPPE). De acordo com a Prefeitura do Recife, todos receberam o documento, mas apenas o Consórcio respondeu confirmando que aceitava a proposta realizada.
Após acamparem no prédio da Prefeitura do Recife na manhã de segunda, os manifestantes do Ocupe Estelita pediam para serem ouvidos antes de a negociação ser iniciada. A advogada e membro do grupo Direitos Urbanos, Liana Cirne Lins, chegou a dizer que nenhum passo deveria ser dado sem que o movimento fosse ouvido, já que foram os ativistas que deram início à discussão em torno do uso do terreno Cais José Estelita. Os manifestantes também pleiteavam a participação de todas as rodadas de negociação – na segunda, a reunião na Prefeitura contava com a presença do Instituto de Arquiteto do Brasil (IAB), Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Conselho Regional de Engenharia e Agronimia (Crea), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e Observatório do Recife.
Os manifestantes se reuniram com representantes da Prefeitura na noite de segunda. Após a emissão da ordem de reintegração de posse do prédio da administração municipal, ficou acordado entre as partes que a ordem judicial só seria cumprida depois das 14h. Antes disso, o movimento realizou uma assembleia para decidir se sai ou não do prédio. O que ficou acordado entre o grupo é que eles só vão deixar o térreo da Prefeitura quando o oficial de Justiça chegar com o documento de reintegração de posse.
"Já que foi expedida a ordem, nós vamos sair quando [o mandado] chegar. Esperamos que o oficial venha com um representante do Ministério Público e dê um tempo para que seja desocupado pacificamente", afirma a advogada Luana Varejão. O movimento ressalta ainda que não vê necessidade para a decisão de reintegração, uma vez que não estariam atrapalhando o funcionamento da Prefeitura.
Na reunião da noite de segunda-feira, também ficou acordado que o Ocupe irá participar de todas as reuniões na Prefeitura. A suspensão dos atos administrativos que já haviam sido feitos para dar continuidade ao projeto Novo Recife, outro pleito dos manifestantes, ainda não foi efetivada.
Entenda a polêmica
Os integrantes do Ocupe Estelita desaprovam o projeto Novo Recife, que prevê a construção de 12 torres residenciais e comerciais, com altura variando entre 20 e 41 andares, no terreno do Cais José Estelita, que fica na zona central da capital, que tem uma área de 10 hectares (aproximadamente, equivalente a 10 campos de futebol).
O terreno pertencia ao espólio da Rede Ferroviária Federal e foi adquirido em leilão realizado em 2008, pelo Consórcio Novo Recife, que é formado pelas empresas Ara Empreendimentos, GL Empreendimentos, Moura Dubeux Engenharia e Queiroz Galvão Desenvolvimento Imobiliário.
Diálogo com a gestão municipal
Após a instalação do acampamento no prédio da gestão municipal, o secretário de Desenvolvimento e Planejamento Urbano, Antônio Alexandre, informou que a administração só pretende manter o diálogo depois que os manifestantes deixarem o edifício. Integrantes do movimento, por sua vez, afirmaram que o acampamento continua até que o Executivo municipal volte a inclui-lo nas rodadas de negociação em relação ao futuro do terreno do Cais José Estelita.
De acordo com a prefeitura, o movimento Ocupe Estelita iria ser convocado para participar dos próximos passos da negociação, que seria o estabelecimento das diretrizes do projeto.
Ocupação no Cais José Estelita
A área do Cais José Estelita foi ocupada em 21 de maio por manifestantes contrários ao projeto Novo Recife, plano imobiliário de um grupo de construtoras que prevê a construção de torres residenciais e comerciais num terreno de 10 hectares, no Centro Histórico do Recife. Eles pedem a nulidade do processo administrativo que aprovou o projeto, que hoje é objeto de ações judiciais questionando sua legalidade.
No dia 3 de junho, a Prefeitura do Recife anunciou a suspensão da licença que permitia a demolição de galpões da área do cais. No dia 5, o engenheiro Eduardo Moura, representante da Moura Dubeux Engenharia, afirmou que o Consórcio Novo Recife concorda em produzir um novo projeto para o terreno.
O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) concedeu a reintegração de posse da área, atendendo a um pedido feito por advogados do Consórcio Novo Recife. O DU e o Ministério Público recorreram da decisão, que foi analisada pela Justiça estadual no dia 18 de junho e considerada legal. A reintegração de posse foi cumprida no dia 17 de junho, após ação violenta da PM no terreno. Desde então, a ocupação acontece sob o viaduto Capitão Temudo, nas proximidades do Cais, no Centro.
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