Bodega de Véio é cartão de visita da Cidade AltaVANESSA LINS
Chegue ao casarão rosa de número 212, na rua do Amparo, e procure por Edval Hermínio. Bastante provável que nenhum dos clientes encostados no balcão do estabelecimento faça ideia de quem atende por essa alcunha. Agora se achegue nessa mesma bancada onde repousam vitrine de empadas, tortinhas de leite condensado e uma máquina fatiadora de frios, e chame pelo Véio.E com um sorriso pontual, ele, o dono da Bodega, atende de pronto. Um dos pontos mais movimentados do Sítio Histórico de Olinda, a Bodega de Véio é uma espécie de termômetro da Marim dos Caetés. Vende de tudo, da cerveja de garrafa ao champanhe francês, da massa para cuscuz a penico, atende todo tipo de gente, sem distinção. “Eu atendo lavador de carro, juiz, músico, artista, jornalista”, listando o mix de público que bate ponto no comércio.
Abraça do mesmíssimo jeito frequentadores contumazes, que baixam por lá quase que diariamente para uns tragos de destilado nacional e os “estrangeiros” que aparecem para curtir programação musical gratuita, promovida em parceria com DJ e grupo de chorinho, sem dispensar a cerveja geladíssima saída dos freezers do Véio - “a mais gelada do Brasil”, exageram alguns clientes empolgados. Se é a mais gelada, não há de se saber, o fato é que bodegueiro consegue manter um padrão de temperatura da loira, algo difícil até em bares profissionais. O que se serve de cerveja mais ou menos gelada, “não tá no gibi”, como diz a expressão popular.
A bodega existe desde a década de 1930, mas apenas em 1981 veio para as mãos de Edval - apelidado de Véio assim que nasceu, e não sabe o motivo da escolha - quando comprou de um primo todo o acervo de produtos de primeira necessidade para abastecer a vizinhança - sabão, papel higiênico, manteiga a granel, feijão, arroz, farinha, leite, etc; o ponto mesmo só foi conquistado em 1989, e aí uma guinada definitiva no negócio. Com o crescimento do turismo nas ladeiras, veio uma nova demanda. A de oferecer itens de consumo imediato durante uma pausa entre uma caminhada e outra por Olinda. Foi quando vieram a cerveja, os refrigerantes, cachaças, caipirosca, uísque, vinho. Mais petiscada para matar o tempo: empada, salada fria de bacalhau, sanduíche de pão francês lambuzado com manteiga e queijo do reino, além dos pratinhos de queijos e frios montados na hora pelo Véio, esposa e filhos, que se revezam no atendimento. Presuntos tipo parma e copa, pastrami, salaminho, mortadela, azeitona e pimenta-biquinho, combinados, são o belisquete mais solicitado. O casarão, entretanto, não chega a ser um bar, mas dialoga livremente com a boemia sem perder o tom familiar que marca sua origem.Hoje, segundo o proprietário da casa, estão à venda cerca de mil itens, incluindo produtos de limpeza, utensílios domésticos, iogurte, vários tipos de bebida. Tudo apinhado nas prateleiras que encobrem as paredes do casarão secular. Bebedores de uísque, por exemplo, contam com as versões populares, mas dispõem também de rótulos premium vendidos a quase R$ 700. Em tempo. A “cerva” geladíssima, de 600ml, sai a R$ 4. E para sentir o clima coletivo da Bodega de Véio, siga o ritual: dispense as cadeiras, fique em pé dentro da bodega, na calçada ou no meio da rua, e espiche os ouvidos para ouvir uma das dezenas de causos contados pelos frequentadores. A graça é essa.
SERVIÇO
Bodega de Véio - Rua do Amparo, 212, Cidade Alta - Olinda. Informações: 3429.0185
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