Um dado preocupante vem deixando os técnicos da Central de Transplantes da Secretaria Estadual de Saúde (CT/SES) preocupados. Até a manhã de ontem, mais de 3,2 mil pacientes ainda esperavam por um transplante de órgão. Desse total, a falta de doadores de fígado é a que mais preocupa por causa da gravidade das doenças relacionadas ao órgão. Ao todo, são 173 pessoas no aguardo. Além dele, outros órgãos são esperados pelos pacientes. Segundo dados da Central de Transplantes, a fila ainda conta com 1,8 mil pessoas na expectativa de ganhar um rim, 1,3 mil por uma córnea e oito à espera de um coração.
Para a gerente de descentralização da CT, Gerlene Grudka Lira, a preocupação dos dados em relação aos enfermos à espera de um fígado tem uma explicação. “São pacientes que não têm nenhuma outra alternativa terapêutica a princípio, como têm os pacientes com problemas de rins, para suprir as funções do fígado”.
Ainda de acordo com Gerlene, a timidez da população em doar se dá por dois fatores. “A dificuldade que a população ainda tem em lidar com a morte é o grande problema. Nós, em vida, não discutimos sobre a morte. Então, é por isso que existe essa dificuldade. A falta de informação também contribui. As pessoas ainda acreditam em muitos mitos. Mito de que o corpo vai ficar deformado, e isso não é verdade”, exemplificou.
Sem perder tempo, e pensando numa vida melhor para o próximo, a dona de casa Luciana Tenório, 46, decidiu doar as córneas do filho para duas pessoas e, com isso, reduzir o número de pessoas na fila de espera para transplantes. Após perder o seu primogênito no ano passado, Luciana resolveu doar os órgãos dele depois de ser informada sobre os procedimentos legais para o transplante e a necessidade do mesmo para salvar outras vidas.
“‘Perdi meu filho em maio do ano passado no Hospital da Restauração (HR), após ele ter sido baleado. No hospital me explicaram sobre os procedimentos que seriam tomados para o transplante. Disseram que após a retirada dos órgãos não deixariam marcas. Como ele não precisava mais e tinha quem precisasse, decidi doar”, explicou.
Ainda de acordo com Luciana, após a realização da doação, o sentimento que se tem é de satisfação. “É muito bom saber que uma partezinha do meu filho ficou na terra para ajudar outras pessoas. Sempre que me lembro disso, penso em ver essas pessoas. Não tenho lembranças do meu filho triste. Acho que as pessoas que receberam os olhos voltaram a enxergar com mais alegria e satisfação”.
Ainda sem poder contar com a mesma felicidade dos receptores dos olhos doados por Luciana está o agente de viagem Aureliano Albuquerque, 52. Esperando há um ano por um transplante de fígado, Aureliano confessa que espera ansiosamente pelo órgão. “Em 2000 fiz um exame de rotina e descobri que estava com problemas no fígado. Desde então, fico ansioso para saber quando realizarei o transplante, pois quem está na lista de espera não tem uma data definida para a realização do procedimento”.
Até o mês passado, 373 transplantes e 23 doações múltiplas de órgãos foram realizados em Pernambuco este ano. Quem desejar realizar a doação deverá comunicar aos seus familiares sobre a sua vontade de ser um doador. Além disso, elas precisam ter boas condições de saúde para serem transplantadas. A Central de Transplantes disponibiliza um serviço de atendimento (0800.281.2185) para informações e orientações.
Por Anderson Bandeira, de Grande Recife
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