Jornal do Commercio: O Tempo Desafia o Encanto.


Após título da Unesco há 29 anos, Sítio Histórico de Olinda ganha novos contornos e moradores têm preocupações que vão além do belo.

Casario com fachadas mais coloridas, passeios no entorno de igrejas seculares convidando para uma visitação a pé, a vista deslumbrante do alto dos telhados mostrando o mar e o céu, agora rodeados ao longe por modernas edificações gigantes no Recife. O Sítio Histórico de Olinda parece realçado 29 anos depois do título de Patrimônio da Humanidade, concedido pela Unesco. Mas a preocupação de quem mora lá vai além da beleza física que facilmente se vê.

Precisamos cuidar do nosso patrimônio imaterial, vivo, o povo, os artistas e personagens da nossa história que morrem sem um inventário de suas obras ou se mudam por causa do barulho dos bares e dos automóveis, afirmou ontem Antenor Vieira, presidente, desde maio, da Associação de Defesa da Cidade Alta (Sodeca). Para ele, a parte física está razoavelmente bem, exceto edifícios isolados que exigem maior conservação ou estão sem uso, como um sobrado na Rua do Amparo, o Cine Olinda, o casarão Herman Lundgren. É a Capital Brasileira da Cultura mas não tem um teatro sequer, compara Vieira.

O maior conflito é imaterial, reforça, pedindo atenção à questão, pois sem o povo não há cultura a preservar. Também preocupante, afirma, é a devastação do verde, mais patrimônio cultural do que natural da Cidade Alta.

José Ataíde, historiador do Carnaval, lembra que desde o Movimento da Ribeira, nos anos 60, que trouxe artistas para a cidade histórica, a população mais pobre tem deixado os imóveis no entorno da prefeitura, Alto da Sé e Carmo. Custa caro conservá-los. Para Fátima Ribeiro, há 55 anos residindo em Olinda, o espaço carece de lazer para as crianças. Precisamos de um parque, respeitando o nosso patrimônio. Outros reclamam das pichações, ruínas e riquezas arquitetônicas que ainda aguardam restauro, estacionamento irregular de veículos, além de intervenções nos imóveis nem sempre de acordo com a lei.

A secretária municipal de Patrimônio de Olinda, Márcia Souto, reconhece o desafio de compatibilizar interesses e manter a preservação. Por isso, segundo ela, o diálogo com a sociedade tem sido constante e vem aumentando. Semana passada instalamos o novo Conselho de Preservação do Sítio Histórico, que a partir de agora tem como metade dos membros titulares e suplentes representantes da sociedade. Além da Sodeca, o grupo tem a participação do Conselho de Arquitetura (Crea), Instituto Histórico de Olinda, irmandades religiosas e da Arquidiocese de Olinda e Recife, administradora de seculares igrejas. A Universidade Federal de Pernambuco também passou a compor o conselho, que julga os projetos e intervenções na área tombada pela Unesco e o Iphan para os quais a legislação existente é omissa.

A secretária enumera várias iniciativas de embelezamento do Sítio Histórico, como os passeios no entorno de igrejas para estimular a visitação a pé. Cita os projetos para restauro do Mosteiro de São Bento, edificado no século 16, da busca de financiamento para ajudar moradores a restaurar fachada e coberta dos imóveis e da Lei Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural e Imaterial. Ela defende o Projeto de Lei 1581/2011, que cria o Fundo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Se aprovado, vai assegurar recursos federais permanentes para cidades tombadas pela União.

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